terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O garoto da praça

Ele não sorri.
Não enquanto suas mãos seguram com firmeza o livro desgastado e ele se dirige à mesa de sempre, na praça perto de sua casa.
Os sons ao redor são caóticos. Mesmo a constante sinfonia da cidade, em suas buzinas ritmadas e vozes em uníssono, não são capazes de desviar sua atenção.
As mãos calejadas percorrem o livro, sentindo cada uma de suas páginas, acariciando cada uma de suas estruturas enquanto os olhos correm frenéticos absorvendo cada uma de suas palavras, sugando-as.
E é então que seus lábios se pronunciam.
O sorriso esboçado é singelo no começo, mas aos poucos vai tomando ares maiores, tornando-se gargalhadas que outrora prendiam-se em sua garganta. Seus olhos continuam a correr pelas páginas, mas a expressão passiva de antes dá lugar a um misto de sensações. Ele agora torna-se cada um de seus personagens, vive cada uma de suas histórias, sente-se como cada um deles.
Aos poucos o vejo retornar a sua postura inicial. O sol não mais exerce sua soberania no céu e a noite já se aproxima para começar seu reinado. O garoto da praça, então, recolhe-se para dentro de si, fecha seu livro e volta a esconder seu eu entre suas páginas. 

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